quinta-feira, 3 de maio de 2012

Diante da Vossa presença, Senhor, não é justo nenhum dos viventes!

Contemplemos a Vitória!


O que é o homem, Senhor, para dele assim Vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? É esta pergunta que eu sempre gosto de fazer diante de Jesus Eucaristia. O que é o homem? A antropologia, que é o estudo do homem, vai tentar nos dar inúmeras respostas, mas precisamos de uma resposta de Deus. Uma resposta que silencie tantas e tantas vezes nossos medos, angústias e tristezas.
O ser humano é um misto de sentimentos. Hoje estamos felizes, amanhã choramos; ora somos fortes e vibrantes, ora somos fracos e tímidos. Em um momento estamos cheios de fé e certezas, somos destemidos, mas em outros, deixamo-nos ser levados pelas incertezas, incredulidades e medos. Não pense que isso é fruto de uma bipolaridade, pelo contrário, esta instabilidade de sentimentos é fruto de perguntas gritantes que existem dentro de nós e que vagueiam no silêncio absoluto sem respostas. E para muitas perguntas não há respostas. 
Há momentos na existência humana em que até o Santo Padre o Papa se coloca diante de Jesus e se interroga a cerca do que ele é, do que deve fazer, de qual é o melhor caminho para dar prosseguimento à sua missão como pastor supremo. Ou seja, estamos todos na mesma jangada, na imensidão do mar que é Deus. Particularmente eu prefiro a metáfora da jangada do que a do braco. Ser barco me dá a conotação de ser forte, robusto, fabricado com peças torneadas e indestrutíveis, eu prefiro ser jangadinha. Ela me traz mas concretamente ao que eu sou. Às minhas origens. Uma jangada precisa ser feita de madeira, uma unida à outra, e assim somos nós, juntos podemos mais. Uma jangada precisa estar bem arrochada e entrelaçada ou pelas cordas ou pelas fibras de bananeira, e assim somos nós, junto ao Espírito de Deus, a Ele nos unimos e entramos em intimidade com a vontade do Pai. Numa jangada, não entra muitas pessoas, só aquelas que Deus necessariamente insiste em fazer que elas participem diretamente de nossas vidas, e assim somos, no final de nossas vidas, sempre construímos pouquíssimas mas, verdadeiras relações fundamentadas no amor, na fé, nos sentimentos de fraternidade. Prefiro ser jangada pelo fato dela ser desengonçada no mar. Tantas vezes assim o somos nas 'aventuras' que Deus nos propõem. Prefiro ser jangada porque ela se lança mais inteiramente e até parece se modelar a cada onda que se quebra sobre ela. E assim deveríamos ser nós, nas ondas infinitas do sonho de Deus por nós. Prefiro ser jangada pois ela não tem leme, mas quase sempre chega ao seu destino confiando no mar revolto que tantas vezes a conduz por caminhos desconhecidos. Ser jangada é saber que, diante da presença de Deus, todos os nossos sentimentos de grandeza se desfazem pois, quem é justo diante do Senhor? Ser jangada é a metáfora perfeita para aqueles que são pequenos, se reconhecem pequenos e que desejam, nada mais do que serem conduzidos por Deus. 
A crise de fé pela qual o mundo passa hoje, a crise de identidade eclesial, é justamente fruto do não reconhecer-se jangada em Deus. Costumo dizer que, quando somos interpelados a respeito do que somos na Igreja, dizemos tudo: sou daquele movimento, sou desta pastoral, sou daquela realidade, e com isso, esquecemos de uma resposta fundamental: Sou Igreja! Sou parte deste corpo, "vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligado por tão suave vínculo, formamos o Corpo de tão sublime Cabeça" que é o Cristo Jesus. Isso é sublime!
Quando tantas filosofias proclamam a morte de Deus, outras anunciam a religião como ópio do povo ou o homem sendo deus de si mesmo, em contrapartida, nos deparamos com um Deus tão  pleno de amor e de misericórdia que nos cria à Sua imagem e semelhança, nos trata com tanto carinho, e ainda nos convida a sermos parte de Si no Corpo da Igreja. E diante deste convite e de nossa resposta de adesão, começa assim, o grande desafio do ser humano cristão que é ser de Deus num mundo que não conhece a Deus.
Infelizmente, somos fracos, geralmente damos mais ouvidos ao demônio, que é acusador e que lança todos os dias nossas fraquezas diante de nós do que ao convite solícito de Deus. Mas é por isso que São Paulo aos Romanos nos exorta dizendo: "Embora nosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, se estamos em Cristo e se Ele está em nós, logo, nosso espírito está cheio de vida, graças à justiça" (8,10-11). E é justamente isso que acontece conosco. Todos os dias, devido às nossas fraquezas, sucumbimos ao pecado, restauramos a mancha do pecado original em nós, deixamo-nos guiar pelas noites escuras, o espinho da carne grita em nosso corpo mortal despertando em nós as paixões e os desejos, mas a GRAÇA de Deus é maior e é ela que vem em nosso socorro, vivificando-nos, reerguendo-nos e fazendo-nos levantar as cabeças e perceber que se aproxima o dia da vitória. Contemplemos a vitória do Senhor!
Deus abençoe!


Pe. Michel Rosa


1- Santo Agostinho, Dos tratados sobre o Evangelho de São João, texto do século V.
2- Romanos 8, 10-11.

4 comentários:

  1. Só o Senhor quem nos sustenta nas nossas instabilidades. Mão segura e amiga que nos guia para o coração de Deus. Ele é a certeza de que o amor misericordioso de Deus se faz presente em nossas vidas

    ResponderExcluir
  2. fico feliz de ter o senhor como pastor , enviado pelas maos misericordiosa de DEUS

    ResponderExcluir
  3. João, conto sempre com suas orações, ok. Deus abençoe.

    ResponderExcluir